O ano de 2020 foi de muitos desafios para o mundo todo. Com a pandemia causada pelo novo coronavírus foram criadas medidas de isolamento social que mudaram a forma como o mundo passou a se relacionar.
Sem minimizar as inúmeras perdas e as consequências devastadoras na economia de diversos países, a pandemia acelerou o desenvolvimento de tecnologias e contribuiu com processos criativos, trazendo novos produtos e oportunidades de negócios.
Outra mudança muito importante para o mercado financeiro, que já vinha ocorrendo desde 2019 com baixa da taxa Selic para 5% ao ano, e que se evidenciou em 2020, quando essa taxa passou a ser menor ainda, a inacreditável marca de 2% ao ano, foi que os investidores mais conservadores que mantinham em sua maioria seu capital em investimentos de renda fixa, passaram a procurar por opções mais rentáveis.
De uma maneira bem generalizada, como os investimentos de renda fixa tem como base a taxa Selic, nesses dois últimos anos, considerado outros fatores como a taxa da B3 e o imposto de renda, por exemplo, alguns desses investimentos passaram a render menos que a poupança no Brasil, o que não é nada bom.
Por essa razão, houve uma migração dos investidores da renda fixa para os investimentos de renda variável e outras alternativas, como é, por exemplo, o Venture Capital.
O que é Venture Capital?
Venture Capital é um investimento de alto risco, mas que pode propiciar altas compensações financeiras. Este tipo de investimento está normalmente ligado a empresas inovadoras do setor de tecnologia e por isso é tão relacionado às startups.
Caso queira entender melhor o que é uma startup, vale a pena ler nosso artigo sobre o assunto!
O dinheiro de uma Venture Capital pode vir de investidores institucionais, corporações e até pessoas físicas que possuam um capital e queiram investir neste fundo.
O “fundo” Venture Capital, financiado normalmente por um grupo de investidores, irá ceder dinheiro para startups que tenham, na visão deles principalmente, um grande potencial de remodelar o mercado e crescer muito rápido. A grande “sacada” está na alta e rápida valorização dessas startups e via de consequência o retorno financeiro para os investidores.
Como em troca do capital investido, adquire-se uma participação acionária, quando se atinge o nível de valorização das ações, provavelmente esses investidores vão vendê-las e sair da operação.
Quer ver um exemplo?
Vamos dizer que João criou um produto que está fazendo muito sucesso entre os consumidores e chamando a atenção da mídia. Ele sabe que seu produto tem futuro, mas precisa de mais dinheiro para crescer no mercado.
João não está conseguindo um financiamento nos bancos tradicionais, pois esses bancos não acreditam no retorno financeiro das suas mercadorias, ou consideram o risco alto. Então, João se encontra com Paula, uma das administradoras de um Capital Venture.
Paula vê o que João já fez com o produto até aqui e acha que o risco pode valer a pena neste investimento. Ela pesquisa mais sobre o produto, analisa o plano de negócio de João e decide investir.
Com o dinheiro do Capital Venture, João consegue difundir seu produto no mercado e, em apenas alguns meses sua empresa, tem uma supervalorização. Paula acredita que esse é o momento de vender as ações que foram adquiridas em troca do capital que foi cedido à João, e assim o faz.
Concluindo, Venture Capital é uma maneira de financiar startups inovadoras e com potencial de crescimento rápido. De uma lado temos investidores buscando lucros altos, e do outro startups criativas que precisam de recursos financeiros para expandir. Venture Capital é o que une essas duas partes.
Outro ponto importante é que, assim como é recomendado para qualquer nível de investidor, que este diversifique o seu portfólio de investimentos, o mesmo vale para Venture Capital.
Como se faz isso? Escolhem-se várias startups para investir simultaneamente, criando-se um portfólio diversificado, pensando que se ao menos uma dessas empresas decolar, o lucro será suficiente para cobrir todo o investimento feito nas outras startups.
Além do mais, os investidores que compõem o fundo Venture Capital, podem participar ativamente do desenvolvimento de algumas dessas empresas, trabalhando na sua gestão e contribuindo com os seus conhecimentos, informações e contatos (“smart money”). No próximo tópico falaremos sobre os tipos de Venture Capital.
Quais os tipos de Venture Capital?
Existem basicamente duas modalidades de Venture Capital: Venture Capital e Private Equity. Algumas pessoas consideram Venture Capital como uma submodalidade de Private Equity.
Independente disso, ambas são modalidades de investimento e a diferença entre elas está, em termos gerais, no momento em que o investimento é feito em relação ao estágio em que a empresa ou startup se encontra.
Venture Capital
Nesse caso, os investimentos são direcionados para startups de pequeno e médio porte, empresas consideradas emergentes, mas que já possuem uma carteira de clientes e um grande potencial de crescimento. Os recursos devem ser destinados para as ações de crescimento e desenvolvimento destas empresas, como previsto em seus planos de negócio.
Private Equity
Private Equity é um fundo de investimento por meio do qual investidores fazem aportes financeiros diretamente em outras empresas, ao invés de optarem pela compra de ações. Aqui, os investimentos já são voltados para empresas de grande porte, que já estão consolidadas no mercado. O objetivo é valorizar ainda mais essas empresas para então abrir o seu capital na bolsa de valores. São exemplos Uber e AirB&B.
O processo de captação de investimentos para um empresa startup passa por várias fases. Um dos momentos mais importante é saber identificar quando se deve recorrer à investidores, saber qual o valor da sua empresa (valuation) e de quanto ou o quê se está disposto a abrir mão.
Vamos ver a seguir como são feitas as captações de recursos desde o desenvolvimento de uma startup até a sua consolidação.
Rodadas de investimentos em Startups
Os primeiros investimentos que uma empresa recebe estão dentro do que conhecemos como “primeira rodada”.
Bootstrapping: Esse é o investimento inicial. É como a maioria dos empreendedores inicia o seu negócio, tirando dinheiro do próprio bolso.
FFF (Family, Friends and Fools): Investimento realizado pela família, amigos ou “tolos”. A última terminologia é um pouco pejorativa, porque esse tipo de investimento muitas vezes acaba ocorrendo de uma forma não muito técnica ou profissional. Mas isso não desmerece esse tipo de investimento, que pode ser extremamente benéfico para startups e o “fool” pode rir por último e ser um visionário quando sua aposta der certo!
Investimento Anjo: pode ser realizado por uma pessoa próxima ao empreendedor, aceleradora, ou mesmo investidor profissional. Os recursos disponibilizados podem variar na casa dos 20 mil reais até 500 mil reais. Normalmente esses recursos são utilizados na construção de um protótipo ou na demonstração de viabilidade do produto ou serviço.
Investimento semente: neste caso o investidor já possui experiência em investimentos, pode ser uma pessoa com recursos destinados a esse fim, ou mesmo fundos criados com esse intuito, ou ainda até mesmo empresas do mesmo segmento da empresa iniciante. Os valores investidos podem variar de 500 mil reais até 2 milhões de reais.
Incubadoras: pertencem especificamente ao ecossistema das startups e são organizações que acompanha os primeiros passos da startup, ajudando em seu projeto, na modelagem de negócio, apresentação de parceiros e ao acesso de recursos em geral.
Aceleradoras: são uma espécie de incubadora. Mas aqui o processo é diferente, a startup é quem procura a aceleradora, e se dispõe a ceder parte de suas ações, ou algum outro tipo de benefício/remuneração, em troca de uma equipe de apoio, consultoria, recursos financeiros, acesso a eventos por um período específico, tudo oferecido pela aceleradora.
Venture Capital: a partir daqui, considera-se que a empresa já tem um produto ou serviço e uma equipe, e já gera uma determinada receita. Ou seja, é uma startup mais estruturada que já passou pela validação (testes de mercado). Os investimentos partem de 2 milhões de reais e podem variar muito dependendo da forma como esses recursos serão utilizados. Como vimos, cede-se o capital em troca de uma parte das ações, com o objetivo de vendê-las após a sua valorização. Essa é considerada a série A, de uma série de rodadas de investimentos que se seguem, que são as séries B,C,D…
Nas rodadas seguintes à rodada A, já se pressupõe que a startup está muito bem estruturada, crescendo exponencialmente, ou seja, tracionando. E os valores investidos partem de 10 milhões de reais.
Série B: os recursos investidos tendem a acelerar ainda mais o crescimento da empresa, escalando-a no mercado, através da compra de outra empresas, da adequação de processos ou expansão propriamente dita, por exemplo.
Série C: a startup continua crescendo, pode utilizar os recursos aportados para se lançar no mercado internacional ou também comprar outras empresas.
As séries que se seguem D, E, F… e até Z se possível, são rodadas de investimentos feitas acreditando-se no potencial de crescimento e ainda mais sucesso da startup, ou seja, são a confirmação e a aposta que os fundos de capital fazem visando ter ainda mais lucros.
Como saber qual é o momento de procurar um investidor ou um fundo de investimentos?
Como mostramos acima, o processo de captação de investimentos para uma startup passa por diversas fases.
A primeira, normalmente, é a do investimento de recursos próprios, para que se possa tirar a ideia do papel, pôr em prática o projeto e iniciar o processo de validação do negócio.
No caso de muitas startups os recursos são finitos e nem todo mundo pode contar com um investidor anjo, ou ainda não atingiu este estágio. Chega o momento em que se deve avaliar a possibilidade de aceitar investidores para que o negócio possa continuar crescendo.
Há pelo menos duas coisas que se deve ter em mente quando se busca um investidor: quanto de participação se está disposto a abrir mão da empresa e o quanto o investidor poderá influenciar no negócio, ou seja, na gestão, administração e definição de estratégia da startup.
Quanto menor for o valuation, maior será a parte que deve estar disposto a entregar ao investidor. Pode acontecer de o investidor querer fazer parte da diretoria e ter voz ativa nas decisões da empresa. Isso também dependerá do estágio em que a startup se encontra, e do tamanho do aporte feito pelo investidor. Nesse caso, para minimizar os efeitos de se ter um “outsider” o empreendedor pode tentar buscar por investidores que já possuam afinidade com o seu mercado.
Mas vale reforçar, que nem sempre a intervenção de um investidor deve ser considerado algo negativo. Pelo contrário, além de recursos, um investidor traz consigo experiência e novas perspectivas para o negócio. Ele é um parceiro que arrisca junto com o empreendedor. Por isso, quando a contribuição do investidor não é puramente financeira, o seu aporte é chamado smart money.
Então, se a startup estiver em uma fase muito inicial, precisando ainda fazer a validação de produto e valuation, o risco do investidor será muito maior, e provavelmente ele demande uma boa parte das ações. Mas ainda quer dizer que ele acredita no negócio e está disposto a arriscar.
Caso a startup esteja em um estágio mais avançado, os aportes financeiros são pela promessa de mais crescimento e porque normalmente a empresa já está no caminho certo, ou seja, o negócio já tem viabilidade, o investimento passa a ser de certa forma mais seguro, e então o empreendedor tem como negociar melhor as suas condições com o investidor.
No geral, investir é um assunto que só se popularizou entre os brasileiros de alguns anos para cá. A cultura de “ser um investidor” que já era muito difundida em outros países como nos Estados Unidos, ainda é muito nova e há pouco tempo começou a ganhar espaço no Brasil.
Nesse sentido, qual é o cenário atual do país? Como o governo tem lidado estrategicamente com essas mudanças e o direito tem se adaptado a essas novas relações? É o que veremos a seguir.
Projeto Marco Legal das Startups
No últimos 10 anos vimos mudanças significativas aconteceram no mercado. Enquanto antes, dentre as 10 empresas mais valiosas no mundo, pelo menos 6 eram ligadas ao petróleo, hoje, pelo menos 7 são de tecnologia.
Obviamente isso causa um impacto muito grande no mercado. E se tem mudanças no mercado, o Direito também precisa se adaptar!
Pensando nisso, o governo propôs uma Lei Complementar que institui o Marco Legal das Startups e do Empreendedorismo no Brasil. Trata-se do Projeto de Lei nº 249 de 2020, que está tramitando na Câmara dos Deputados.
Este projeto busca definir os requisitos de empresa como uma startup e regulamentar o papel do investidor anjo. Além disso, trata de formas de incentivo para negócios inovadores.
Um dos objetivos deste projeto é desburocratizar as regras que envolvam startups, porém com faturamento e portes limitados. Também visa garantir uma maior segurança para os investidores, criado regras de proteção contra eventuais passivos da empresa, com o objetivo de estimular os investidores a manterem e investirem seu capital nas startups nacionais.
Outro ponto positivo, é que a lei trata também da regulamentação da contratação de startups pelo poder público para o teste de soluções inovadoras desenvolvidas ou a serem desenvolvidas, o que não deixa de ser uma forma de financiamento para estas empresas.
Contudo, a Lei deixou de contemplar algumas situações relevantes para o cenário brasileiro, como questões tributárias e trabalhistas, o que pode vir a desestimular os investidores.
Uma das formas de se contratar um profissional especializado ou de mantê-lo durante um determinado período na startup, principalmente em uma etapa de desenvolvimento em que esse profissional seja essencial, é oferecer-lhe uma parte das ações da empresa. Isso ocorre pelo contrato de vesting, do qual já tratamos em outro artigo neste blog.
Porém, dependendo de como isto for feito, ou recepcionado pela lei, pode gerar cargas de tributação excessivas, fazendo com que o empregado desista deste tipo de operação.
Outra situação, para esse mesmo exemplo, é que com a legislação atual, esse tipo de “acordo” poderia não ser validado e a compra e venda de ações no fim ser considerada como salário desse empregado, gerando prejuízo para a empresa, e fazendo com que investidores desistam de uma boa ideia.
Por fim, o avanço da tecnologia e o surgimento de novos aplicativos que trazem soluções para o nosso dia a dia são inegáveis. Aliás, são exatamente estes os propósitos das startups, usar a tecnologia de forma inteligente para solucionar problemas do dia a dia. Uma das formas de se acompanhar esse crescimento e estar por dentro do mercado é investir em Venture Capital.
Essas empresas têm se mantido por mais tempo como privadas, ou seja, com o capital fechado, para que se atinja um crescimento relevante no seu valuation, para então abrirem o seu capital para a bolsa de valores, o que pode resultar em lucros ainda mais significativos.
O grande desafio deste tipo de investimento é encontrar qual é a startup com a tecnologia e o negócio certo para ser o próximo unicórnio (termo que se refere a empresa avaliada em mais de US$ 1 Bilhão antes da abertura de capital em bolsa de valores).
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